Thursday, May 01, 2008

Um manto de silêncio

Cubro-me com um manto de profundo silêncio e sei que algures lá fora a noite ficou ainda mais densa e tortuosa. Aprendi os caminhos de mim como quem aprende a ler o sal nas mãos de quem amou. Procuro-me, cega, mas o meu peito não reconhece o som asmático do negro que perfura os olhos demasiado grandes e perscrutadores.Sei que quando me morrerem finalmente as palavras nuas o som do meu nome me será infinitamente estranho.Sinto que quando me morrerem finalmente as mãos turvas quedas no regaço,todas as folhas amarelas que depositei nas tuas mãos se transformarão em regatos de água doce. Cubro-me com um manto de profundo silêncio e descubro que a noite lá fora invadiu o meu espaço e trespassou a minha alma como uma adaga penitente e humilde. Cubro-me com um manto e deixo que o sono e o profundo silêncio se abatam no meu seio onde um dia moraram os sonhos e as imperfeições.

Silvia.